“A Evolução Artificial da Espécie: Criadão do Centenário” na crônica de Jair Vivan

Cidade Crônica

Se não bastassem o avião, o helicóptero e o drone, os homens pulam de asa-delta, fazem bungee jump, se penduram nas montanhas… e acabam se estatelando no chão, de onde nem deviam ter saído. Desde Ícaro, é assim: não se conformam em ser apenas racionais, querem ter o dom dos animais e vivem tentando imitá-los.

Usam a inteligência, sua melhor capacidade, para plagiar as dos animais irracionais que só se preocupam com alimentação, reprodução e defesa, explorando o solo e a vegetação de seu território com apenas o necessário para uma harmoniosa sobrevivência de renovação e continuidade.

Mas os seres pensantes não, eles querem muito mais, desafiam velocidades e outros limites, desnudam a natureza, alteram o solo, esburacando, furando, aterrando, desviando o curso das águas. Tirando tudo, sugando pedra por pedra, ocupando tudo sem necessidade, expulsando os bichos de seu habitat e os enxotando do meio urbano.

Há um tempo, na minha cidade, o jacaré do lago, íntimo dos pedalinhos, da turma dos patos, criadão do Parque Centenário, andava aterrorizando a cidade, fugitivo de alguma ameaça. Cresceu, criou fama ali e deu muito trabalho à defesa civil nas tentativas de captura, sem sucesso, mas foi encontrado boiando, engasgado e sufocado com uma sacola plástica de supermercado. De caçado e perigoso, agora candidato a mártir ecológico por descuido humano, poluição e degradação do meio ambiente.

Morcegos, ratos e outros bichos trazem vírus para o meio urbano, disseminando doenças e até uma recente pandemia, causando muitas mortes. Tudo culpa da inquietude e ambição humanas, mas o homem continua.

E vai longe. A evolução trouxe a matéria plástica, mudando muitas coisas de nosso uso cotidiano nos últimos cinquenta anos, como as embalagens, garrafas PET e sacolas em geral. O plástico passou a fazer parte de nossas vidas, inclusive presente com as micropartículas de nanoplástico na corrente sanguínea de humanos. Pode ficar ainda mais interessante com a inteligência artificial saindo do controle de seus criadores. Já podemos imaginar, na evolução de nossa espécie, o homem com inteligência de mentira e sangue de plástico. Mas ainda estamos engatinhando.

JVivanJr.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *