Éramos bons penetras, não seria por falta de convite que deixaríamos de ir a um evento, um aniversário, um casamento ou alguma inauguração, o importante era se fazer presente, o convite era apenas um mero detalhe.
E íamos ganhando experiência no assunto, como ouvir à Rádio local anunciando os acontecimentos sociais, principalmente os casamentos, quando nos infiltrávamos já na igreja, cumprimentando os noivos, aproveitando o tumulto e abordando-os separadamente para um pensar que era convidado da família do outro, depois sair de fininho acompanhando a fila de carros até o local da festa, teve caso até de sentarmos por um tempo na mesa dos noivos como se fossemos íntimos, sem ao menos conhecê-los e ficar tudo bem, mas também já teve caso em que fomos desmascarados e convidados a nos retirarmos depois que comecemos, e outros para retirarmo-nos imediatamente, sem comer mesmo.

Tinha que estar preparado para tudo, era tudo ou nada, teve festa que, depois de todo mundo bêbado, cheguei até a dançar com a noiva, com todo respeito, é claro, mas depois, ao perceber o clima, dei uma dançadinha com o noivo para disfarçar e vazei.
Nas festas de quinze anos era de lei um penetra dançar com a “debu”, normalmente o pai dela é que não gostava muito, mas um de nós sempre se aproximava e jogava uma conversa no velho que às vezes era gente boa e acabava nos recepcionando com regalias nas bebidas e tudo o mais, mas era um ou outro, essa tática normalmente dava ruim, já chegamos até a ter que sair correndo.
Era assim, nas inaugurações comerciais éramos recebidos por conta de não comprometer o brilho do evento, mas com restrições e mantidos sob o controle dos garçons que normalmente nos conheciam, tinha que ficar na miúda.
Carteira falsa de jornalista ou de autoridade para entrar em bailes normalmente nem eram checadas, pois porteiro que acreditasse na carteirada não conferia e de autoridades não se desconfiava naquela época, mas tinha que aproveitar o tumulto.
Outra maneira de entrar nos bailes dos clubes sem ter que pular o muro, era ficar perto da equipe da banda quando fosse descarregar a aparelhagem. Com a desculpa de ajudar, carregava uma caixa de som ou outro equipamento qualquer e já ficava lá dentro.
Depois passei a escrever para um jornal local e ter minha autentica carteira da imprensa, assim entrava nos bailes de cabeça erguida, até esperava acalmar o tumulto na expectativa de que o porteiro desse um confere e quebrasse a cara.

E foi pela vida à fora, um bom penetra não perde a majestade, a experiência é para o resto da vida, habilidade adquirida jamais será esquecida, fica no sangue, pois ao passar por uma vernissage, um sarau, uma noite de autógrafos ou um lançamento qualquer que seja e ver mais do que três mastigando, já sei que não é chiclete, vou logo entrando.
Mas nos casamentos não dá mais, hoje em dia tem azeitoninhas para individualizar o convite, lista de convidados e os bufês cobrando por cabeça, não que seja impossível, deve ter lá o seu jeito de burlar o esquema, mas para enfrentar esta nova modalidade eu teria que me aperfeiçoar.
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JVivanJr.
